O MPLA, partido no poder em Angola desde 1975 e que, por isso, formatou o país à sua imagem e semelhança (“Angola é o MPLA e o MPLA é Angola”, é uma das suas divisas), apelou hoje ao patriotismo dos professores, em greve durante três semanas, e exortou o Governo a encontrar um consenso com os docentes.
A posição consta do comunicado final da segunda reunião extraordinária do secretariado do Bureau Político do partido, que decorreu hoje, em Luanda, sob orientação de João Lourenço, vice-presidente do MPLA e chefe de Estado, na ausência de José Eduardo dos Santos, que continua na liderança.
Na mesma declaração, o secretariado do partido manifesta-se “preocupado face à greve de professores” do ensino geral, iniciada na segunda-feira, e que se prolonga até 27 de Abril, tendo “exortado o executivo a envidar todos os esforços para que se encontrem consensos”.
Foi feito ainda o apelo “para que, da parte dos docentes, prevaleça uma atitude patriótica, em prol das crianças angolanas e do seu direito à educação e ensino”.
A posição surge depois de uma delegação do Sindicato Nacional dos Professores (Sinprof) ter reunido na terça-feira com o Ministério da Educação, mas que terminou sem consenso, mantendo-se a paralisação.
Esta paralisação, a terceira fase da greve convocada em 2017 pelo Sinprof, e suspensa há cerca de um ano para negociações com o Governo, está a levar ao fecho de várias escolas por todo o país e acontece numa fase de avaliações dos alunos do ensino geral.
Em causa, a motivar esta paralisação, segundo o Sinprof, está a falta de resposta do Governo ao caderno reivindicativo apresentado ao Ministério da Educação em 2013.
O presidente daquele sindicato, Guilherme Silva, referiu anteriormente que os professores pretendem com esta greve demonstrar a sua insatisfação pela não aprovação do novo Estatuto da Carreira Docente, bem como rejeitar a estratégia do Ministério da Educação, de priorizar o concurso público de admissão de novos professores em detrimento da actualização de categoria dos professores em serviço.
O que verdadeiramente quer o MPLA
Em 1 de Setembro de 2015, sob o título “A educação cívica e patriótica nas escolas de Angola”, o MPLA dizia:
“O Executivo do MPLA aprovou uma nova proposta de Lei de Bases do Sistema de Educação do país, ajustado aos novos tempos.
O Executivo angolano acaba de aprovar e recomendou o envio, à Assembleia Nacional, de uma proposta de Lei de Bases do Sistema de Educação, para que seja garantida a introdução, no sistema de ensino da República de Angola, da disciplina de educação cívica e patriótica às novas gerações.
Este procedimento, previsto no actual Programa de Governo do MPLA, 2012 a 2017, decorre em função da evolução e da experiência adquirida por Angola, na gestão e organização do ensino, bem como no estudo das tendências de desenvolvimento dos diversos sistemas educativos no Mundo.
No domínio da Educação Patriótica, o Programa de Governo do MPLA estabelece a implementação de projectos e programas, que promovam a valorização dos símbolos nacionais, no seio da família, da escola e da comunidade.
Este segundo segmento social, a escola, por congregar grande parte da juventude e em função da comprovada redução dos valores morais e cívicos na sociedade angolana, deve constituir o principal alvo da sua transmissão, a todos os níveis de ensino.
No seio da comunidade escolar, configura-se importante a promoção de acções de valorização de figuras históricas da luta de resistência anticolonial, da luta de libertação nacional e do processo de consolidação do Estado democrático de direito em Angola, como estabelece o Programa de Governo do MPLA.
A efectivação da recomendação do Executivo irá, certamente, contribuir para a recuperação de valores perdidos, garantindo-se, deste modo, uma melhor formação e educação patriótica das novas gerações de angolanos, mediante o respeito e a valorização das figuras históricas do país.
A sua aceitação, pela Assembleia Nacional, vai, igualmente, promover a garantia da prática das boas maneiras e o respeito pelo próximo, pressupostos fundamentais e indispensáveis para a consolidação da unidade e coesão nacionais e do Estado democrático de direito, permitindo-se, assim, a edificação de uma Angola cada vez mais emancipada e atractiva.
Isso requer o envolvimento de todos. Todos os cidadãos devem apreender essa iniciativa do Governo do MPLA, promovendo e defendendo a educação patriótica nas escolas, públicas e privadas, de todo o país, no seio familiar e na comunidade em que cada um está inserido.
Os cidadãos devem, também, promover e incentivar o surgimento de organizações sociocomunitárias e de jovens, que tenham como fins a educação patriótica.
A promoção do amor à Pátria e o respeito pelos símbolos nacionais, como factores determinantes para a união dos angolanos, independentemente da sua filiação partidária, da sua raça, crença religiosa, ou etnia, devem estar na primeira linha, como, de resto, advoga o MPLA, no seu pensamento político.”
Depois disto, ou a par disto, acresce que quem não alinhar com o pensamento oficial vai necessariamente aumentar as fileiras dos que devem ir para os campos de reeducação… patriótica.
Estes são, como muito bem pensa o MPLA, locais onde os cépticos e descrentes no papel de vanguarda do querido líder (José Eduardo dos Santos como presidente do partido) aprenderão com quantos paus de faz uma canoa que, quase sempre, afunda no meio do rio para gáudio dos jacarés. Os manuais são os usados pelos Khmer Vermelhos de Pol Pot.